Entre o subterraneo e o espacial
Dentro da caixa das memorias desorganizadas,
Entre cheiros perdidos e noites vendidas
Ao desbarato dos sentidos,
Vem sempre ao de cima
Aquela voz soprada ao ouvido
E o sol quente da pele escura
Já suada do futuro
e a tremer no presente
De excitação e de ter encontrado
Uma pele igual à sua
Thursday, October 11, 2007
Tuesday, October 9, 2007
(em construção...)
Faltavam 2 dias para o resto da semana. Finalmente, poderia ir ao escritório do patrão, entrar com a ponta da saia enrodilhada nas mãos e pedir o salário. A semanada. Precisava mesmo de um copo e já não tinha sequer a aguardente do tio em casa. E não ficava bem ir a casa dele outra vez num espaço de duas semanas, depois de quase 2 anos sem ter passado por lá. Não é que o velhote se importasse mas ainda pensaria que só lá ia por causa do alambique e ainda era capaz de pensar que era alguma bêbada. Ná, eu não.
Wednesday, October 3, 2007
Entre um dia e o outro
De situações sempre iguais
Aquela noite foi diferente
A impunidade e a culpa
De braços dados, sem remorsos
Firmaram o tratado com os olhos
Nas escadas de luz intermitente
Sem saber porque estava ali
Tentei ter cuidado
Para não me denunciar
O nervo central, fraco e cobarde,
Que não me deixa tomar decisões
abandonou-me mais uma vez
E o comodismo ds certezas sobrepôs-se à incerteza da paixão
De situações sempre iguais
Aquela noite foi diferente
A impunidade e a culpa
De braços dados, sem remorsos
Firmaram o tratado com os olhos
Nas escadas de luz intermitente
Sem saber porque estava ali
Tentei ter cuidado
Para não me denunciar
O nervo central, fraco e cobarde,
Que não me deixa tomar decisões
abandonou-me mais uma vez
E o comodismo ds certezas sobrepôs-se à incerteza da paixão
Thursday, March 15, 2007
Olhos nublados
Sem palavras, ele espera à janela. Sem delongas, inspira o fumo dos cigarros até lhe começar a doer o peito.
Leva a mão ao bolso e a cabeça ao passado. Os olhos, fixos, para dentro da casa mal iluminada. O recorte azul da telvisão acesa afasta os fantasmas, pelo menos lá dentro. Cá fora, mordem-lhe as orelhas com o frio, roem-lhe as unhas com a impaciência própria dos espectros. Mas ele continua imóvel, com os olhos, fixos, nublados. "Pele clara, olhos nublados" foi como um dia o chamaram levianamente. Os fantasmas aproveitaram-se da liberdade poética e gozaram-no, tentaram aproveitar-se do momento em que ele quase se enterneceu.
Mas ele continuou sereno. O Tao. O Centro. O bom e o mau. O neutro.
...
Ele não foi gerado para aparecer em frente à janela, foi gerado com amor, ou com vontade animal, ou com descuido e nascido e criado com amor, ou ódio, ou indiferença, ou desdém ou nada disso ou um pouco de cada, teve os seus amores, desamores, apesar de não os sentir. Mas a sua gestação, a sua vida só surgiu agora. Porque assim o quis quem viu ou ouviu contar a sua história e resolveu recontá-la para que o leitor faça o seu papel. Mas também porque, para ele, só este momento interessava. Finalemente, era o hoje que estava a ser vivido.Tudo o que ele está a passar hoje já passou e não vai passar novamente, mesmo que esteja imóvel durante dias, nunca vai estar igual.
...
Leva a mão ao bolso e a cabeça ao passado. Os olhos, fixos, para dentro da casa mal iluminada. O recorte azul da telvisão acesa afasta os fantasmas, pelo menos lá dentro. Cá fora, mordem-lhe as orelhas com o frio, roem-lhe as unhas com a impaciência própria dos espectros. Mas ele continua imóvel, com os olhos, fixos, nublados. "Pele clara, olhos nublados" foi como um dia o chamaram levianamente. Os fantasmas aproveitaram-se da liberdade poética e gozaram-no, tentaram aproveitar-se do momento em que ele quase se enterneceu.
Mas ele continuou sereno. O Tao. O Centro. O bom e o mau. O neutro.
...
Ele não foi gerado para aparecer em frente à janela, foi gerado com amor, ou com vontade animal, ou com descuido e nascido e criado com amor, ou ódio, ou indiferença, ou desdém ou nada disso ou um pouco de cada, teve os seus amores, desamores, apesar de não os sentir. Mas a sua gestação, a sua vida só surgiu agora. Porque assim o quis quem viu ou ouviu contar a sua história e resolveu recontá-la para que o leitor faça o seu papel. Mas também porque, para ele, só este momento interessava. Finalemente, era o hoje que estava a ser vivido.Tudo o que ele está a passar hoje já passou e não vai passar novamente, mesmo que esteja imóvel durante dias, nunca vai estar igual.
...
Wednesday, January 17, 2007
O Poço
Acima do fundo negro, que pode até ser branco
Ninguém sabe, porque quem lá foi nunca voltou para contar,
Debato-me para ver o tecto
Enquanto que a água sobe, que até pode estar a descer
E eu sem saber, estou de pernas para o ar,
A ser empurrado contra o fundo que é o tecto
Limito-me a respirar, uma golfada de ar de cada vez
E dou uma braçada que demora um dia ou minutos,
Talvez
E que me dão a ilusão de que nado, sem ver as paredes
Sem sol de inverno ou chuva de verão,
À deriva dos dias iguais, sempre iguais,
A única surpresa vem de dentro,
Quando me questiono se o tempo já passou
ou está a passar
Os fantasmas do poço fazem o mesmo
E sem se aperceberem da sua condição
Deixam-me descansar em paz
Às vezes esbracejo, na inutilidade que o gesto tem
Mas a ira de nada vale
Sabendo que se está vivo
E que quem te ouve está morto e não o sabe
Subscribe to:
Posts (Atom)